Aninha vive só na casa enorme onde cresceu e que há anos pertence à sua família. Sentada em sua cadeira de balanço, contempla sua cristaleira repleta de xícaras de porcelana e cristais empoeirados que ela não se atreve a limpar com suas mãos trêmulas. Entre esses objetos frágeis e preciosos, há um que ela ama particularmente: uma xícara cor-de-nuvem, por vezes reflete de brilhos róseos, por vezes cinzentos, repleta de nuances de cor que se transformam a cada instante. Essa xícara, que ela chama de sua princesa de porcelana, já pertenceu a sua avó Ana e agora pertence a sua filha Rosa, que mora em Buenos Aires. Seu brilho de cores suaves traz lembranças inúmeras de sua infância - lhe traz de volta seu pai, Pedro, morto precocemente, sua mãe Antonia, sempre amargurada pela morte do marido, seu avô Felício e seu marido Alonso, que desde menino foi seu companheiro de brincadeiras. Uma agradável surpresa reúne, depois de muito tempo, a velha Aninha e sua neta Marina, com seus treze anos - e eis que nós vemos se repetir, diante da cristaleira, quase a mesma cena que acontecera antes entre Aninha ainda menina e sua avó Ana. E é quando a menina, desastrada, deixa cair e quebra a preciosa xícara, que enfim revela o segredo de sua misteriosa e rara cor de nuvem.