scobrindo o ser humano Não é à toa que a Ilíada e a Odisseia de Homero, escritas há dois milênios e meio, permanecem pulsantes e atuais. Elas con­tam, da mais bela forma, os primórdios da civilização ocidental. A Ilíada é o re­lato da guerra de Troia, ao passo que a Odisseia narra o retorno de Ulisses para seu reino, a ilha de Ítaca. Uma descreve o conflito armado; a outra, a restauração da ordem. Na primeira, vemos as massas en­raivecidas, manipuladas pelos deuses. Na segunda, o ardiloso Ulisses circula de ilha a ilha, forjando a possibilidade de fugir à pstinação. Há uma forte oscilação en­tre as duas: lá, o momento do herói; aqui, uma jornada que é também interior. Toda ambiguidade humana nos chega pelos poemas homéricos – imperecíveis porque o ser humano, embora mude de roupa, é sempre o mesmo personagem. Originado numa série de programas de rádio de sucesso na França, este livro é também fruto de um retiro que o autor fez nas ilhas Cíclades, no mar Egeu. O aventu­reiro, geógrafo e jornalista Sylvain Tesson fala das epopeias homéricas de forma livre de qualquer academicismo. Devolve o en­cantamento com essas duas obras a todo e qualquer leitor – tenha este lido integral­mente os poemas ou não. O autor explica a origem das epopeias – que eram transmitidas oralmente na Grécia antiga –, as hipóteses sobre a figura de Homero e explora vários aspectos das obras: da participação divina e das criatu­ras mágicas e monstruosas, passando pela discussão sobre o livre-arbítrio e sobre o destino ao qual estamos submetidos, refle­tindo até mesmo sobre o poder da orató­ria. E o faz de modo irresistível, pois, ao discorrer sobre o legado de Homero, na verdade desvenda o mais humano de cada um de nós. Juntas, Ilíada e Odisseia traçam os contornos da condição humana e po­dem aqui ser scobertas como nunca antes.